Conquista

Jornalismo da UFPel forma sua primeira aluna com deficiência visual

Jovem de 25 anos completou o curso e, em breve, vai começar a segunda graduação

Foto: Carlos Queiroz - DP - Agora jornalista, Samira também irá cursar Direito na UFPel

Por Helena Schuster
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(Estagiária sob supervisão de Vinicius Peraça)


A formatura institucional da UFPel, no último sábado (4), marcou a colação de grau da primeira aluna com deficiência visual no curso de Jornalismo da instituição. A conquista inédita é motivo de muita felicidade, mas a jornalista recém-formada Samira Silveira, 25, garante que não vê a conclusão do curso como uma superação, e sim como mais uma etapa realizada. A jovem, inclusive, já tem a segunda graduação do currículo encaminhada.

Natural de Pedras Altas, Samira vê a formatura como resultado do incentivo dos pais e irmãos para os estudos. A jovem, que convive com a deficiência visual desde criança, conta que, ao longo dos anos, sempre se sentiu muito bem recebida em instituições de ensino. "Tinha algumas adaptações, mas sempre foi tudo muito de boa. Até os 11 anos de idade eu tinha baixa visão em um dos olhos, então isso também me ajuda em muitas coisas do dia a dia hoje", conta. Em um dos olhos, a jornalista não possui nenhuma visão e, no outro, tem apenas a percepção de luz. A deficiência é resultado de um glaucoma, diagnóstico que recebeu ainda recém-nascida.

Na UFPel, Samira avalia que a acessibilidade também não foi um problema. A jovem conta que os colegas, professores, a estrutura e a instituição, também através do Núcleo de Acessibilidade e Inclusão (NAI), foram bons aliados. "Fiz estágio, muitas práticas e também fui voluntária em grupo de pesquisa. Aproveitei bastante tudo que era oferecido", relembra. A jovem, que gosta de uma boa aventura, reflete que as pessoas com deficiência podem - e devem - encarar desafios e novas experiências. "Tem que se arriscar mesmo. E nas universidades, por exemplo, as coisas estão evoluindo. Tem que aproveitar e não deixar as oportunidades passarem."

Mais estudo pela frente

A próxima etapa acadêmica e profissional de Samira já está definida: a Faculdade de Direito da UFPel. Nos próximos meses, vai dar início à segunda graduação da carreira. No futuro, um mestrado, apesar de mais improvável, também não é descartado. "O mestrado me interessa menos porque acho a parte acadêmica mais chata, gosto mais da prática. Mas nunca se sabe", projeta.

Nos estudos, e também em outras tarefas, a tecnologia é a principal aliada da jovem, que até sabe, mas quase não utiliza o braille. Samira comenta que aplicativos, como aqueles que realizam leitura de tela no celular e no computador, foram fundamentais na formação - e também são um incentivo para que mais pessoas com deficiência visual busquem espaços de educação. "Antigamente não tinha tantas tecnologias. Hoje em dia as coisas estão mais fáceis e acessíveis e, nas universidades, também tem setores especializados para auxiliar", avalia.

Para os professores, adaptação e aprendizados

Para o corpo docente do Jornalismo, a trajetória acadêmica de Samira foi uma oportunidade de crescimento. A coordenadora do curso, Silvia Meirelles, conta que, com a ajuda da aluna, muitas tecnologias que até então não faziam parte da rotina dos professores foram introduzidas em sala de aula. "Precisamos fazer adaptações no formato das aulas. Antes mesmo da pandemia, a gente já fazia prova e levava muito conteúdo online. Também começamos a pensar mais nas produções jornalísticas para pessoas com deficiência visual."

A professora Michele Negrini, que coordena um grupo de pesquisa sobre audiodescrição e acessibilidade no telejornalismo, confirma que a aluna também foi importante para que as aulas fossem pensadas de forma mais inclusiva. "Nas aulas de telejornalismo, por exemplo, conversei e troquei muitas ideias com ela para visualizar como as atividades seriam feitas. A graduação da Samira contribui muito para um jornalismo com mais acessibilidade e novas possibilidades", comenta.

Importância da diversidade

Atualmente, um aluno com transtorno do espectro autista (TEA) está cursando Jornalismo. Na visão da coordenadora, o curso já se sente mais preparado para receber alunos com deficiência, mas ressalta a importância de ver cada um de forma individual. "Cada pessoa com deficiência que chega é única e nós temos que entender suas necessidades."

Silvia reforça, ainda, a importância de que mais pessoas com deficiência ocupem o curso de Jornalismo e, também, a UFPel. "As pessoas com deficiência ficaram, muito tempo, à margem desse ambiente. Muito se fala que a universidade é importante na vida dessas pessoas, mas elas também são extremamente importantes para as universidades", finaliza.

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